De início, não gostaria de refletir sobre as questão-título deste texto sem apresentar alguns dados da realidade que podem balizá-la. Porém, vejo que o empírico também nos ajuda a pensar melhor sobre as estruturas (e superestruturas) postas para permitir um uso de qualidade das mídias em nossas escolas públicas de ensino fundamental e médio. Pois bem, vamos ao que interessa:
- As escolas estão preparadas para o uso de mídias?
Antes de pensarmos, diretamente no foco da questão é preciso fazermos uma pequena parada: O que vem a ser “mídia”. Resgatando alguns tópicos das leituras que fiz de Mcluhan [1](1964), Belloni[2] (2005), Kenski [3](2006), pode-se dizer que as mídias são meios ou veículos de comunicação.
Mcluhan (1964) afirma que “o conteúdo de qualquer meio ou veículo é sempre um outro meio ou veículo.” Isto implica em discutir o que se aprende por meio das “mídias”. Ele constestou a tese da neutralidade do meio tecnológico. Segundo ele, quando se transmite uma mensagem, o meio também transmite algo mais que lhe é próprio e que interfere no conteúdo, alterando-o. Nesta lógica, torna-se fundamental, aqui, resgatar um pouco da análise feita por Valdemar Setzer, em textos anteriores: o poder da mídia é bem maior do que pensamos! Há que se relativizar o uso irrestrito, acrítico das mídias, principalmente, por crianças e jovens em processo de formação do caráter, da personalidade. Seu uso deve ser equilibrado, consciente, sem exageros.
Belloni (2005) alerta para os efeitos danosos da superexposição às mídias. Segundo ela, as crianças estão superexpostas ao consumo desregrado da TV e isso pode provocar problemas na sua formação.
“Crianças que durante anos consomem televisão de modo frenético (isto quer dizer quase todas) absorvem certo tipo de mensagens, aspectos técnicos, elementos estéticos, que são de natureza diferente dos conteúdos. A televisão habitua o espectador a, por exemplo, privilegiar o zapping e a ‘desligar’ a atenção ou o aparelho quando um certo ritmo de sucessão de imagens e sons não é respeitado.” (BELLONI, 2002, p. 6).
Nesta lógica, os meios para se chegar à comunicação, ao conhecimento tornam-se elementos para além da humanidade! É preciso ter cautela entre um discurso salvacionista das mídias (novas tecnologias), como infelizmente ainda presenciamos e o discurso retrógrado e imobilista de que não é necessário fazer uso das tecnologias como propulsoras do conhecimento.
O termo “mídia” representa um conceito que referencia um amplo e complexo sistema de comunicação. Seu conceito constitui-se da sua característica como suporte de divulgação e de veiculação de informações (TV, rádio, jornal). A sua organização se dá, também, pela forma como a informação é transformada e divulgada (mídia impressa, mídia digital, mídia eletrônica). Além disso, é preciso compreendê-la dentro do escopo da sua materialização como instrumentos relevantes para o registro (DVDs, CDs, Cd-Rom, Fitas Cassete, Disquetes, Vídeocassetes).
E é justamente nesta definição que me sustento para responder à primeira questão: As escolas estão preparadas para o uso das mídias?
Bem, a partir do momento em que as mídias são meios, devemos pensar que estes meios são utilizados e alimentados por “seres humanos”. Assim, toda e qualquer comunicação que ocorre utilizando as mídias se tornam eivadas de caráter ideológico. Logo, ela pode servir à alienação.
As escolas, pelo que temos presenciado ainda não conseguiram superar o discurso de transformação para, efetivamente, fazê-lo valer na prática. Ela ainda está num processo de auto-reflexão, de questionar-se, de compreender-se. Há um conflito instalado, principalmente, no que tange a sua função social, as suas visões de mundo, as suas visões de educação e de homem.
Continua, portanto, o desafio da escola contribuir, efetivamente, para a formação de cidadãos críticos, atuantes, criativos e autônomos no pensar e no agir, com vistas à transformação.
Dessa forma, assumir as mídias, na perspectiva de trabalhá-las, no cotidiano da escola, de modo criativo, crítico, competente passa a se constituir como grande desafio para gerar transformações profundas e significativas: formação de professores, aprofundar as reflexões sobre metodologias de ensino, envolver o professor nos processos de seleção dos equipamentos, bem como exigir das diversas esferas das secretarias de educação a aquisição, manutenção e acessibilidade democratizada de equipamentos.
Pelo visto, muito ainda há que se investir para que as mídias sirvam como instrumentos de formação da criticidade, da autonomia, da criatividade e como instrumentos de construção do conhecimento e à serviço do homem para resolver problemas de ordem concreta da realidade que o circunda.
Neste sentido, concordo plenamente com uma indagação de Belloni[4] (2002): “como poderá a escola contribuir para que todas as nossas crianças se tornem utilizadoras (usuárias) criativas e críticas (grifo nosso) destas novas ferrametnas e não meras consumidoras compulsivas (grifo nosso) de representações novas de velhos clichês?.”
Diante disso, vejo que a escola ainda não se apresenta preparada para o desenvolvimento de seu trabalho com as mídias. É preciso que elas, a partir de seus gestores, de seus professores, de seus funcionários, de seus alunos, se conscientizem de que o uso das mídias não pode ser mecânico, instrumental, acrítico... O seu uso consciente passa pela discussão democrática dos objetivos, das funções e das finalidades da escola. Que aluno se quer formar? Que sociedade se quer? Que escola se quer?
É preciso atribuir-lhe o seu lugar na educação: ferramenta pedagógica à serviço da formação humana cidadã, crítica e autônoma.
[1] MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. Cultriz, São Paulo, 1964.
[2] BELLONI, Maria Luíza. Educação a distância. 4.ed., Campinas-SP: Autores Associados, 2006.
[3] KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 4. ed., Campinas-SP: Papirus, 2006.
[4] BELLONI, Maria Luíza. O que é mídia-educação. 2.ed., Campinas-SP: Autores Associados, 2005.
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