A temporalidade é um aspecto fundamental para a construção de propostas que visem à constituição de um trabalho docente que tenha em vista o sucesso do aluno em seu processo de aprendizagem. Por isso, a temporalidade pedagógica, como bem define Assmann (1998), quando se coloca à disposição da produção de experiências prazerosas nas relações do aprender, cria todo um clima de organização propício às experiências de aprendizagem e fornece-nos a possibilidade de troca de experiências e a construção coletiva do trabalho pedagógico. Assmann acrescenta, ainda, que a temporalidade pedagógica não se reduz ao tempo cronológico, mas a uma infinidade de tempos que se constituem na escola.
A coordenação pedagógica é mais um dos componentes dessa temporalidade pedagógica e constitui-se como um relevante contributo para a organização do trabalho pedagógico, do planejamento escolar, das decisõeses pedagógicas, a discussão dos tempos do aprender, dos espaços, da educação continuada do professor quando pensado numa lógica de integração, não compartimentalização, coletivo. É, enfim, um espaço valioso que proporciona o debate, a discussão, a troca, o diálogo, o encontro, a reflexão sobre a ação, a reflexão-na-ação.
Tecendo a teia de interações
A coordenação pedagógica no âmbito da escola, lugar de conflitos, embates, trocas, discussões, debates, realidades vivas e lugar privilegiado de educação continuada do professor reflexivo deve, também, apresentar um projeto que direcione claramente suas ações ao longo do ano. Assim, o projeto, que faz parte do projeto maior da escola, o Projeto Político-Pedagógico, contribui para tornar explícitas as intenções do trabalho docente.
A coordenação pedagógica na escola deve se sustentar em alguns pressupostos fundamentais :
- A educação deve ser compreendida como prática social, assim, a escola é locus a privilegiado para a construção de relações e práticas coletivas;
- A ação pedagógica, entendida como prática social, deve-se fundamentar em objetivos, finalidades. A finalidade da coordenação pedagógica sustenta-se na perspectiva de que as práticas pedagógicas são práticas sociais transformadoras;
- A constituição do Projeto Político-Pedagógico da escola requer uma relação democrática comprometida com a construção da cidadania e com a função social de provocar mudanças qualitativas na vida de seus alunos e da comunidade em geral;
- O processo participativo é fundamental para que se garanta mudanças conscientes.
A coordenação pedagógica, baseada nesses pressupostos, é compreendida como espaço/tempo primordial da construção de planejamento e realização de ações coletivas, de reflexão, de troca de experiências, de elaboração, de organização coletiva do trabalho pedagógico como vistas à alteração das estruturas de trabalho docente individualizadas, fragmentadas, isoladas, descontextualizadas e, conseqüentemente, dos contextos de fracasso que fazem parte das maioria de nossas escolas.
É, também, espaço/tempo de construção da autonomia do trabalho docente, bem como de construção do projeto político-pedagógico que busque a autonomia da escola. Constituir esse espaço/tempo torna-se fundamental para solidificar as bases da transformação que se pretende operar no âmbito da escola, considerando os aspectos organizativos do processo de trabalho pedagógico e os aspectos inerentes à gestão que é exercida no interior escolar (Veiga, 2000).
A autonomia deve ser entendida em várias vertentes. Ela é, antes de tudo, um aspecto preponderante para a constituição da identidade da escola. Ela é a possibilidade de a escola pensar a sua própria essência, a sua própria organização, os seus próprios fundamentos do ensinar e do aprender, as suas relações com a comunidade.
A autonomia não é um valor absoluto, fechado em si mesmo, mas um valor que se determina numa relação de interação social. Nesse sentido, a escola deve alicerçar o conceito de autonomia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado os outros níveis da esfera administrativa educacional. A autonomia é importante para a criação da identidade da escola. A autonomia não é, afinal, uma política, mas a substância de uma nova organização do trabalho pedagógico na escola. Essa supõe a possibilidade de singularidade e variação entre as instituições escolares. (Veiga, 2000, p. 15)
Dessa forma, a coordenação pedagógica constitui-se como espaço/tempo de oportunização das interações coletivas, individuais. A participação ativa de sujeitos contribui para o fortalecimento de ações que percorrem um trajeto, ora do social ou interpessoal para o individual ou intrapessoal, ora do intrapessoal para o interpessoal.
Neste movimento, a coordenação pedagógica reveste-se dos seguintes sentidos* espaço/tempo do professor formar-se, educar-se
* espaço/tempo para a troca de experiências pedagógicas que tenha alcançado resultados expressivos;
* espaço/tempo de aprendizagem coletiva;
* espaço/tempo de planejamento individual e coletivo das ações pedagógicas;
* espaço/tempo para a organização coletiva do trabalho pedagógico;
* espaço/tempo para pensar, refletir, analisar e repensar as práticas pedagógicas. Com objetivos claros, comuns e factíveis, a rede de interações vai se constituindo à medida que o professor tem um tempo demarcado para perceber-se parte de uma totalidade. E este tempo é o tempo da coordenação pedagógica. O professor, sentindo-se parte do todo, logo sentir-se-á o todo nas partes. Cada um, com suas experiências deixa um pouco de si no outro e vice-versa. Assim, os nós se fortalecem, a rede consolida-se e o trabalho na escola pode representar um faceta mais integrada, coletiva, intencional.
(texto adaptado da minha dissertação de mestrado)