GIBIS NA SALA DE AULA
Ao contrário do que muitos pensam, não existem histórias em quadrinhos apenas infantis. Compreender os tipos de HQs e seus gêneros é essencial para a boa utilização desse recurso na sala de aula. Lembre-se: escolha os gibis de acordo com o público-alvo.
Alguns tipos de histórias em quadrinhos
Infantis - inclui revistas como Turma da Mônica e Zé Carioca. São as mais conhecidas e fáceis de achar. A garotada começa a ler esse tipo de história até mesmo antes de se alfabetizar, pela facilidade de leitura visual. O interesse por esse tipo de história costuma decair a partir dos onze anos.
Supes-Heróis - São voltadas para adolescentes, na sua maioria do sexo masculino. Inclui revistas como Batman e Homem-Aranha.
Mangás - São histórias em quadrinhos japonesas. Freqüentemente publicadas em preto e branco e com apoio da divulgação proporcionada pelos desenhos animados, essas histórias têm conquistado cada vez mais adeptos entre os adolescentes brasileiros. Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball são exemplos.
Quadrinhos Adultos - não devem ser confundidas com histórias eróticas. São voltadas para um público mais intelectualizado e se destacam pela qualidade do texto e dos desenhos. Maus e Persépolis são exemplos desse tipo de gibi.
Eróticos - São histórias relacionadas a sexo, geralmente feitas com baixas tiragens e sem continuidade. Durante algum tempo, esse foi um mercado de trabalho importante para os quadrinistas nacionais, já que não havia concorrência do material importado e alguma das melhores HQs brasileiras foram produzidas nesse gênero. Hoje, com a proliferação dos mangás eróticos (hentai), esse gênero deixou de ser um reduto nacional.
Sugestões de atividades
Para aulas de Português - No livro Como usar histórias em quadrinhos na sala de aula, Paulo Ramos sugere trabalhar a questão da linguagem nos quadrinhos. Histórias em quadrinhos do Chico Bento podem ser usadas, por exemplo, para trabalhar as funções e níveis da linguagem.
Para aulas de Educação Artística - O professor pode incentivar os alunos a analisar a linguagem dos quadrinhos (balões, quadros, onomatopéias) e a brincar com ela, realizando suas próprias histórias. A metalinguagem que pode ser percebida, por exemplo, nas histórias em que o Cascão sobe no balão para fugir da água, pode dar origem a discussões ou à produção de histórias que utilizem esses recursos.
Para aulas de Matemática - Os alunos podem ser incentivados a criar histórias com personagens baseados em operações matemáticas ou que se envolvam em tramas cuja solução envolva problemas matemáticos.
Para aulas de História e Geografia - Alguns dos melhores desenhistas de quadrinhos da atualidade são brasileiros. É o caso de Marcelo Campos, Deodato Filho, Bené Nascimento, entre outros. Mas, como o mercado norte-americano tem preconceito com relação aos artistas latino-americanos, a maioria deles mudou de nome. Assim, Marcelo Campos virou Marc Campos, Deodato Filho virou Mike Deodato Jr, Bené Nascimento virou Joe Bennett. O mais paradoxal é que muitos brasileiros que lêem histórias de seus personagens prediletos (Deodato desenha o Hulk, Bené ilustra Elektra, mas já foi o responsável pelo Homem-Aranha) não sabe que está lendo uma história feita por brasileiros. É possível discutir essa situação em aulas de história ou geografia. Uma sugestão seria comprar revistas feitas por esses artistas, dar para a turma ler e, a partir da percepção de que são brasileiros com nomes americanizados, discutir temas como identidade cultural, preconceito cultural, a relação entre os países ricos e países pobres, imperialismo e outros. Também é possível discutir porque esses artistas só conseguem publicar nas grandes editoras nacionais depois de terem seu trabalho publicado nos EUA.
Para aulas de Ciência - A primeira coisa que o professor de ciência deve se lembrar é que os gibis não são um bom veículo para transmitir informações científicas. As histórias criadas com esse propósito acabam sendo chatas e desatualizadas. Isto ocorre por duas razões: a primeira delas é que as HQs são feitas com o objetivo de divertir, entreter, portanto o roteirista não se prende ao conhecimento científico atual. A segunda é que os longos prazos de produção de uma revista (de seis meses a um ano) geralmente fazem com que as informações estejam defasadas quando publicadas. Entretanto, as HQs são ótimos veículos de divulgação de paradigmas científicos, de visões de mundo. Foram as histórias em quadrinhos, por exemplo, que ajudaram muitas pessoas a entender o modelo atômico e a teoria da evolução. Foram os gibis dos super-heróis X-Men que tornaram popular o conceito de mutação e podem ser usados para iniciar uma aula sobre Darwin. Por outro lado, muitas histórias em quadrinhos anteciparam descobertas científicas, como Flash Gordon e a corrida espacial, Dick Tracy e o telefone celular e o Quarteto Fantástico e a realidade virtual. Além disto, há histórias em quadrinhos que não só divulgam paradigmas, como discutem o papel da ciência na sociedade atual e a responsabilidade do cientista. Bons exemplos são Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, e Homem-Animal, de Grant Morrison e Chas Trough. O professor pode levar histórias em quadrinhos para aulas de ciências e levar os alunos a discutir as teorias científicas que estão por trás dos roteiros. Também é valido debater como algumas histórias, especialmente de super-heróis, contradizem o conhecimento que se tem sobre determinado assunto. O fato do Super-Homem voar, por exemplo, pode ser usado para inserir a discussão sobre a Teoria da Gravitação Universal, de Newton.
Trabalho transdisciplinar - Esse trabalho pode envolver professores de diversas disciplinas, entre elas história, geografia, português e educação artística. Os alunos seriam incentivados a pesquisar sobre o bairro no qual está instalada a escola. Através de pesquisa bibliográfica e entrevistas com moradores, cada grupo recolheria material para produção de uma história em quadrinhos. No final, todas essas histórias podem ser reunidas em um fanzine. O fanzine é uma revista artesanal, feita em fotocópias e com baixa tiragem. Outra opção é fazer uma exposição com o material produzido e convidar a comunidade para visitar.
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